Das ondas de Baía Formosa ao inédito ouro olímpico, conheça a trajetória de Ítalo Ferreira

por , publicado em 29.abr.22

Campeão mundial de surfe e, agora, olímpico, o fenômeno do mar, Ítalo Ferreira, começou sua carreira de atleta com uma tampa de isopor do pai pescador

 

Por: Cleciane Silva, Lúcia Oliveira e Mateus Albuquerque

 

Ítalo Ferreira surfando

Ítalo Ferreira faz história no surfe mundial.
Crédito: Divulgação | Fernando Frazão | Agência Brasil

 

A Olimpíada de Tóquio certamente foi a edição mais marcante da história. Em meio à pandemia do novo coronavírus, o mundo parou para torcer, mesmo que de longe, pelos atletas dos seus países. Sem torcida nas arquibancadas, mas sempre com apoio à distância, os competidores vivenciaram uma experiência diferente de todos os outros Jogos que, em 2021, incluiu cinco novos esportes: beisebol (ou softbol), karatê, escalada, surfe e skate.

Ítalo Ferreira foi um dos nomes mais comentados depois que o surfista brasileiro escreveu um novo capítulo na história das olimpíadas. Aos 27 anos, ele foi o primeiro atleta a conquistar o Ouro no surfe, uma medalha inédita para o esporte a nível mundial. O que muitos não sabem é como Ítalo se interessou pela modalidade e como fez disso uma inspiração de vida. 

 

O início em Baía Formosa

 

Ítalo pegou suas primeiras ondas em Baía Formosa, litoral do Rio Grande do Norte, lugar em que ‘nasceu e se criou’, como popularmente falam no estado. Com apenas oito anos, enquanto seu pai trabalhava como pescador para garantir o sustento da família, o garoto fazia da tampa da caixa de isopor, que era usada para guardar os peixes, uma prancha. Essa foi a imagem que muitos viram por vários anos: um menino franzino, de família humilde, surfando em uma tampa de isopor, que sonhava todos os dias em ser um nome de destaque no esporte. 

No entanto, ao passo que foi crescendo, as dificuldades também aumentaram. Ainda que a vontade de ser surfista profissional crescesse cada dia mais, a falta de patrocínio e o preconceito foram os principais obstáculos na vida do jovem, mas, felizmente, não conseguiram fazer com que Ítalo desistisse. 

Com a origem humilde, muitas competições foram pagas com o dinheiro que o pai do menino ganhava com a venda dos pescados. Além disso, o fato do atleta ser nordestino sempre foi algo que fechou portas, para ele e sua família. Porém, um fenômeno do mar ainda apareceria e em um dia agitado, seu nome foi ao topo do surfe brasileiro.

 

Nasce um ídolo

 

Ítalo não demorou a ganhar destaque no cenário nacional. Em 2014, foi campeão da SuperSurf (atual Campeonato Brasileiro de Surf), aos 20 anos de idade. Já no ano de 2018, foi campeão da etapa Rip Curl Bells Beach, derrotando o australiano Mick Fanning na final, título que o levou à liderança do circuito mundial de surfe. No ano seguinte, na etapa de Pipeline, no Havaí (EUA), desbancou o também brasileiro Gabriel Medina e conquistou seu primeiro mundial de surfe, organizado pela World Surf League (WSL). 

ítalo Ferreira vibrando após o título do ouro olímpicoÍtalo Ferreira vibrando após o ouro olímpico em Tóquio. Fonte: Divulgação / Imagens da web / COB

 

Após tantas vitórias, a torcida já apontava Ítalo como um dos favoritos para a conquista da medalha na primeira participação do surfe como esporte olímpico, em Tóquio. A realidade foi além do que se esperava e ele se sagrou campeão ao vencer o japonês Kanoa Igarashi na final, não apenas conquistando um ouro inédito para o Brasil, mas colocando seu nome na história do surfe.

 

Homenagem

 

“Quis homenagear o Ítalo Ferreira no momento em que ele é vencedor [nas Olimpíadas]. Eu estava assistindo junto ao meu filho, quando Ítalo conquistou o ouro. Meu filho ficou muito emocionado [com a vitória do atleta] e me chamou para fazer essa obra”, disse, em entrevista à nossa equipe, o artista visual Guaraci Gabriel, autor da escultura de cinco metros de altura, inaugurada na última sexta-feira (14), em homenagem ao surfista. 

Ítalo Ferreira e Guaracy Gabriel em frente à estátua em Baía Formosa

Ítalo Ferreira e Guaracy Gabriel em frente à estatua, em Baía Formosa (RN).
Fonte: Arquivo pessoal | Redes sociais

Ítalo reconheceu a estátua cravada nas areias de Pontal do Surf, praia de Baía Formosa, e marcou a memória do inquieto Guaraci com a frase: “agora eu tenho para quem dar bom dia, todo dia, quando eu for entrar no mar”. Segundo Gabriel, foi com essa frase que soube que a obra estava de acordo com o personagem. 

A homenagem do artista potiguar não remete apenas às pessoas que inspiraram o surfista, remete também à esperança e às histórias repletas de lutas e conquistas. “A homenagem não é somente ao atleta, e sim a um sonho realizado e aos sonhos das pessoas que acreditam nele, é nesse sentido que meu raciocínio gera. O Ítalo não é apenas um campeão olímpico, e sim um campeão do cotidiano como muita gente. Transformei o Ítalo num deus do mar, em um Netuno”. 

A arte foi feita por estêncil, um material comum, mas que contém muitos significados. “O que te faz olhar uma obra feita por um material tão simples como este é a sua capacidade ‘metaverso’ de compreensão. Tem que estar dentro desse universo ‘metaverso’ para perceber que o estêncil tem outras dimensões, além de ser apenas um material. A sensibilidade no olhar é o que completa e dá sentido à obra”, concluiu.