Racismo, misoginia e favores: relembre as polêmicas das principais premiações do cinema
O debate sobre a falta de diversidade nos grandes prêmios da indústria cinematográfica tem se intensificado nos últimos anos
Por: Camila Pinto, Líria Paz e Ingrid Torres
O começo de ano marca o início da temporada com as principais premiações da indústria cinematográfica global. Globo de Ouro, BAFTA e Oscar. Neles, os principais lançamentos do ano são indicados, avaliados e premiados. No entanto, não só de prestígio e glamour vivem esses eventos. Adiamentos ocasionados pela pandemia do Covid-19 e polêmicas marcaram o início de temporada.
Controvérsias envolvendo estes prêmios não são novidade. Racismo, misoginia, escândalos sexuais e vários outros assuntos costumam pautar muitas das polêmicas em torno desses eventos. E embora o boicote ao Globo de Ouro seja o capítulo mais recente dessas questões, iremos relembrar algumas das principais polêmicas envolvendo as premiações mais importantes da indústria do cinema.
#OscarSoWhite
Oscar ficou conhecido como uma premiação dominada por pessoas brancas. Com a Academia composta majoritariamente por homens brancos e poucas indicações e premiações de pessoas negras, o evento sempre deixou aquele gosto amargo de uma premiação racista. Porém, em 2016, a discussão sobre a ausência de artistas negros entre indicados nas categorias de atores levou ao movimento #OscarSoWhite, criado pela ativista April Reign.
Após a divulgação da lista de indicados, a hashtag (indicada pelo símbolo “#”), traduzida para “Oscar Muito Branco”, viralizou nas redes sociais, atraindo a atenção do público, de artistas, da mídia e da academia. Atores como Jada Pinket Smith e Will Smith, boicotaram o evento naquele ano. A então presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, organizadora do evento, Cheryl Boone Isaacs, também criticou a falta de diversidade no evento e prometeu mudanças drásticas para combater essa questão.
Apenas em 2020 a academia anunciou medidas concretas para tal mudança. Entre elas, a alteração na composição dos membros e jurados da academia para contemplar mais mulheres e pessoas não-brancas e a adoção de quatro grandes critérios para definir os filmes elegíveis para a premiação. Tais critérios incluem a inserção de personagens mais diversos e narrativas que contemplem grupos raciais e étnicos sub-representados. Essas medidas passam a valer a partir da premiação deste ano, 2022, e prometem se intensificar até 2024.
Times Up
Em 2018, o foco era a misoginia e as denúncias de assédio sexual. Apesar de não se tratar especificamente sobre as premiações, o movimento Times Up impulsionou diversos protestos durante os eventos e as críticas à predominância masculina em categorias técnicas e de produção. O movimento surgiu após inúmeras denúncias de assédio sexual contra magnatas da indústria, entre eles Harvey Weinstein, ex-produtor de filmes em Hollywood, em 2017.
As premiações deste ano de 2022 foram marcadas por discursos incisivos e protestos. No Globo de Ouro, as atrizes optaram por vestirem looks em preto e por levar ativistas feministas como acompanhantes para o evento. No Critic’s Choice Awards, atores e atrizes discursaram sobre a necessidade de se ouvir as mulheres e que muito ainda precisa ser feito para combater o assédio sexual. No SAG, todas as categorias foram apresentadas por mulheres. No BAFTA, além dos trajes em preto, houve a inauguração da versão britânica do movimento.
Racismo e troca de favores no Globo de Ouro
Após a edição de 2021 do Globo de Ouro, o Los Angeles Times publicou uma matéria criticando a falta de diversidade na premiação. O motivo estava no fato de que o grupo de críticos da Associação de Jornalistas Estrangeiros não possuía nenhuma pessoa negra sequer. Além disso, o texto trouxe a revelação de que alguns destes críticos aceitavam presentes em troca de favorecimento nas indicações, como teria ocorrido com a série Emilly em Paris, da Netflix.
As acusações levaram a um boicote contra a premiação em 2022. Diversos estúdios e produtoras, como a própria Netflix e a WarnerMedia, recusaram-se a apoiar a premiação. A emissora NBC optou por cancelar a transmissão da cerimônia. No final, o Globo de Ouro aconteceu a portas fechadas, sem público e artistas, tendo a lista de vencedores sendo publicada via redes sociais.
Com toda essa polêmica, a Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood, organizadora da premiação, aumentou para 13% o número de pessoas negras entre os jurados. Além disso, o ex-presidente da associação, Philip Berk, foi demitido após se referir ao movimento “Black Lives Matter” como um “grupo de ódio racista”, por e-mail divulgado pelo Deadline.
Em meio a tantas polêmicas envolvendo diversidade racial e de gênero, as premiações da indústria cinematográfica nos fazem refletir sobre até quando polêmicas assim serão frequentes. Apesar de alguns avanços recentes e promessas de mudanças, ainda há muito que se fazer para que essas premiações sejam mais justas e plurais.