Por universidade “pintada de povo”, cursinho popular leva educação e política para estudantes
Rede nacional Emancipa, que atua em Natal, se inspira em Paulo Freire e defende ensino popular antimercadológico
Por: Bruna Araújo, Marina Filgueira e Valcidney Soares
Uma educação “para derrubar os muros da universidade” e ser “transformadora de realidades”. Essa é a proposta da Rede Emancipa, uma rede de cursinhos populares criada há quase 15 anos e que vê na educação uma forma de levar dignidade para milhares de estudantes brasileiros.
O grupo nasceu em 2007, na periferia de São Paulo, como uma dissidência de outro cursinho que passou a cobrar mensalidade. “A gente surge com essa ideia maluca de que ‘ninguém fica pra trás’, se você cobra um real alguém ficou pra trás porque sempre tem aquele que não consegue pagar nada”, defende Tati Ribeiro, coordenadora nacional do movimento.
Além das aulas convencionais, o Emancipa também atua em outras frentes. No Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte, por exemplo, o grupo atua em presídios. Em Natal, a iniciativa veio em 2019 e preparava os apenados da Cadeia Pública de Natal para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), mas teve que ser interrompido pela pandemia. “Foi uma experiência muito massa e pretendemos voltar”, diz Tati.
Os desafios durante a pandemia
Com o avanço da pandemia, a rotina de estudos dos estudantes teve que se adaptar a uma nova realidade. Os cursinhos populares buscaram meios para continuar a caminhada rumo às universidades. Mas, essa adaptação não foi fácil e nem completamente inclusiva. A mudança, então, afetou um dos princípios fundamentais da Rede Emancipa. “Funcionar online significa necessariamente a gente derrubar uma das nossas questões mais basilares: ninguém fica para trás, porque, necessariamente, quem não tem internet fica para trás”, afirma Tati Ribeiro.
Segundo ela, o número de alunos que conseguiram acompanhar a transição e ter pleno acesso às aulas caiu bruscamente. “Na casa dos milhares de alunos para centenas e depois, no final do ano, chegando a dezenas só”, revela a coordenadora. Outro problema que também afeta o aprendizado em casa é o ambiente inapropriado. Em muitos lares, barulhos, conflitos e a necessidade de trabalhar prejudicam o foco nas aulas. “A prioridade das famílias muitas vezes não é o estudo”, diz Ribeiro.
Universidade “pintada de povo”
O Emancipa acredita num ensino libertador e democrático, adotando uma postura política engajada. “A nossa aposta é que não existe ensino neutro. Toda educação é voltada ou para manter o status quo ou para mudar o status quo”, afirma Ribeiro.
Além de preparar os alunos para o Enem, o Emancipa ajuda a construir senso crítico e defende que os estudantes pobres ocupem as universidades públicas. Com ideais definidos, o grupo entende a educação como um direito fundamental para a construção de uma sociedade igualitária, diz Tati, que denuncia o “funil que tira as pessoas que mais precisam da universidade pública de dentro da universidade pública”.
Como participar
As inscrições para novas turmas são sempre divulgadas nas redes sociais do projeto ou direto nesse endereço: https://linktr.ee/redeemanciparn. Os interessados também podem entrar em contato com a Rede Emancipa pelo whatsapp, a partir das informações que constam na bio do Instagram (@EmancipaRN). Os cursinhos acontecem em diferentes bairros de Natal e também em outras cidades, como Currais Novos e Ceará-Mirim. Também são ofertadas formações de educadores populares, para quem deseje ser voluntário no projeto.