Projeto universitário ajuda a conscientizar sobre o aumento de casos de arboviroses no RN
Recentemente, o Governo do Estado oficializou a situação de emergência em razão da epidemia de dengue
O sistema de saúde Norte Rio-Grandense vive atualmente uma pressão decorrente do surto de arboviroses, principalmente ligada à nova epidemia da dengue.
Com objetivo de viabilizar importantes medidas de combate à doença, o Governo do Estado publicou um decreto, no qual oficializa a situação de emergência em consequência da epidemia de dengue.
A medida foi discutida com gestores municipais e representantes do Ministério Público como uma forma de viabilizar importantes medidas de combate à doença no estado. Uma delas será a criação de um comitê para orientação aos municípios sobre a adoção do plano de contingenciamento elaborado pela Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap).
De acordo com a Sesap, até o dia 14 de maio de 2022, o estado registrou 14.860 casos prováveis de dengue, 4.563 casos prováveis de chikungunya e 1.008 casos prováveis de infecção pelo zika vírus.
Se comparado ao ano anterior, os resultados demonstram o crescimento do número de casos. Em 2021, considerando o mesmo período, o estado registrou pouco mais de 900 casos de dengue, 1.738 casos prováveis de chikungunya e menos de 100 casos de zika.
Os dados foram publicados no dia 20 de maio de 2022 através do Boletim Epidemiológico das Arboviroses, que divulga os dados atualizados da dengue, chikungunya e zika no Rio Grande do Norte.
A coordenadora do Programa de Arboviroses da Sesap, Dinara Alves, aponta que esse cenário epidemiológico do crescente número de casos se reflete em nível nacional e também destaca a prévia existência dessas epidemias que já eram alvos de preocupação dos estados bem antes da Covid-19. “Atualmente no nosso estado encontramos a circulação de dois sorotipos, o 1 e o 2, os mesmos do restante do Brasil. Antes, os registros mostravam uma média de crescente notificação de casos com uma média de 3 anos, mas isso pode ter sido afetado com a pandemia da covid e o fato de muitas pessoas não irem ao médico para serem diagnosticadas”, reflete.
A gestora também destaca a importância do estado nas ações de enfrentamento às arboviroses. “O estado é responsável por fazer a distribuição de larvicidas e inseticidas para os municípios através de licitações feitas pelo Ministério da Saúde. Também capacita, orienta, apoia na realização do Levantamento de Índice Rápido da População do Aedes Aegypti (Lira), além, claro, da mobilização social”.
Em Natal, entre janeiro e abril de 2022 foi registrado um aumento de 1.566% nos casos de dengue. Ao todo foram 2.966 casos registrados neste ano no período, contra 192 em 2021. Os casos de chikungunya foram 176 contra 39; e de zika 13 contra 9, ou seja, também cresceram nos primeiros quatro meses deste ano na cidade.
Segundo Boletim Epidemiológico da Secretaria de Saúde de Natal, ao todo, o aumento nos casos de arboviroses na capital nesse período foi de 1.214%, sendo 3.155 casos notificados em 2022 contra 240 em 2021. Os bairros com maiores números de notificações foram Pajuçara, Lagoa Azul e Pitimbu.
A prefeitura também declarou o momento epidêmico da dengue e instalou um gabinete de crise para tomar decisões no combate ao mosquito Aedes Aegypti.
Riscos para saúde
Febre, dor de cabeça e no corpo, falta de apetite, e fraqueza. Esses são alguns dos sintomas mais comuns relacionados à dengue e foram os sintomas iniciais que o estudante universitário Victor Eduardo de 23 anos sentiu, e, posteriormente, após algumas consultas com o médico, foi diagnosticado com a doença.
Por recomendação dos médicos, Victor, que reside em Natal, retornou para casa, mas para sua surpresa teve uma piora significativa, sentindo fortes dores na barriga e com inchaço na região, além de manchas na perna e virilha.
De volta ao hospital, foram realizados alguns exames dos quais confirmaram que o estudante tinha desenvolvido a forma grave da doença, mais conhecida como dengue hemorrágica e teve que permanecer dois dias internado no hospital. “Eu estava me sentindo muito fraco. Foi detectado um aumento no fígado e o nível de plaquetas no meu sangue estava bem abaixo do necessário. Além disso, o hospital estava lotado de pessoas que também estavam com dengue”, conta.
Semanas após a alta, o jovem também relata que ainda não se sente recuperado por completo, “Eu sinto que meu condicionamento físico caiu muito, não estou conseguindo fazer exercícios como antes, a corrida é um deles, e meu fígado ainda está voltando ao normal por completo. Espero estar 100% logo”.
Possibilidades de combate e prevenção
Em meio a esse surto da doença, é de fundamental importância o desenvolvimento de projetos que sejam aliados a causa do enfrentamento das arboviroses. É o caso do projeto ArboControl.
O ArboControl desenvolve-se com o apoio institucional da Faculdade de Ciências da Saúde, do Laboratório de Educação, Informação e Comunicação em Saúde da Universidade de Brasília (UNB) e do Ministério da Saúde, executado em diversos municípios, distribuídos nas cinco regiões brasileiras.
No RN, a responsável deste trabalho, especificamente na capital Natal, é a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), sob orientação da Professora Doutora Lívia Cirne de Azevedo Pereira, propondo ações de combate às arboviroses, como palestras, capacitações e produção de materiais educativos.
Ao longo de 10 meses, o ArboControl desenvolveu atividades em Natal. Dentre elas, foi produzido um podcast de uma série chamada “Você Sabia?” que traz curiosidades sobre o combate às arboviroses. O material foi inserido na plataforma do Spotify e encaminhado para o Movimento de Luta nos Bairros (MBL) e a ONG “A transparência”.
Além disso, o projeto realizou uma série de capacitações e treinamentos com trabalhadores em saúde que trabalham no Centro de Controle de Zoonoses e na Unidade Básica de Saúde de Ponta Negra, em Natal. “No Centro de Zoonoses , propomos Media Training para os gestores da unidade e palestra sobre mídia e comunicação para os agentes de endemias. Na Unidade Básica de Saúde de Ponta Negra, realizamos capacitação sobre a produção de conteúdo para redes sociais”, declarou Jorge Luiz, mestrando do Programa de Pós-graduação em Estudo da Mídia (PPgEM) e pesquisador bolsista do Arbocontrol Natal.
Aliado a essa importância na promoção de repassar conhecimentos, também foram desenvolvidas ações em escolas públicas, a exemplo da Escola Estadual Imperial Marinheiro que teve a participação de mais de 50 estudantes do Ensino Médio.
Jorge também também ressalta a ação estratégica do ArboControl, “O projeto tem sua base estratégica pelo fato de atuarmos antes do agravamento do quadro epidemiológico das arboviroses em Natal dos últimos meses. Diante disso, ações como treinamentos e capacitações com agentes comunitários de saúde, agentes de endemias, enfermeiros e outros técnicos de saúde pública são de extrema importância”, aponta o pesquisador.