Atleta potiguar, Júnior França, a caminho dos EUA por disputa à vaga paraolímpica

por , publicado em 21.jul.22

“Eu sei onde eu quero chegar e eu vejo que tenho potencial.”

É o que diz o paratleta potiguar Júnior França. Ele, que levanta três vezes o seu peso, treina diariamente com foco no mundial, que acontece 4 de julho em St. Louis, cidade do Missouri nos Estados Unidos. A expectativa a princípio é levantar 161kgs, na categoria até 54kgs. Para o feito na América é necessário erguer em seu treinamento em casa 170kgs.

Das ruas do Bom Pastor direto para o mundo, França conta que tem se doar 200%: “é isso quando se tem deficiência, em Natal”.  Ser atleta mudou a história de Júnior que sempre foi morador de periferia e estudante de escolas públicas, e foi criado numa família leiga em relação ao esporte no qual ele coleciona diversas conquistas internacionais.

O atleta, que hoje é o atual campeão recordista das américas, campeão brasileiro, campeão Pan-americano, 6º lugar nos jogos Paralímpicos de Tóquio, recebe apenas o bolsa atleta. Segundo ele, dá uma tranquilidade para fazer o que gosta sem grandes preocupações, porém – sem nenhum patrocínio, apenas com o apoio da Sociedade Amigos do Deficiente Físico do Rio Grande do Norte- SADEF, que dispõe de academia, treinador e suplementos – o atleta se queixa da falta de reconhecimento no esporte. “Quando você se sente valorizado isso aumenta muito a sua autoestima quanto atleta.”

Atleta Júnior França exibe orgulhoso suas medalhas. Foto: Luisa Rebouças

Júnior é formado em Direito e enfrentou dificuldades desde jovem para estudar e praticar esportes. Aprendeu sozinho a andar de ônibus e, com a ajuda de amigos, tirou seus documentos. “O que estava preparado pra mim era ficar em casa. Não estudar. Os próprios funcionários da escola me diziam que eu já tinha meu benefício. Eu chorava e minha mãe brigava muito com meu irmão pra ele me levar pra escola. Eu sabia da importância da escola e eu também era uma criança muito trancada em casa. Não tinha professor de português, de matemática, de geografia, não tinha preparação nenhuma quando fui fazer o Enem.” O aluno que tirou a nota mínima para garantir o benefício do FIES, revela que nunca pediu pontos aos professores da faculdade.

“É muito gratificante chegar lá fora e trazer uma medalha. É como se você passasse a ser alguém no meio da sociedade; as pessoas com deficiência são discriminadas constantemente. Meus amigos nunca me viram como deficiente, eu sempre fiz tudo sozinho.”

Júnior França

Os Jogos Parapan-Americanos no México abriram os olhos do atleta para o halterofilismo: “Eu me senti maravilhado.” O atleta, que treinou atletismo e basquete antes se encontrar no levantamento de peso, diz “Se você for avaliar, não é uma coisa gostosa de se fazer como um atletismo, correndo aquela adrenalina, ou uma natação, mas, depois que eu comecei a pegar o jeito pela coisa, eu comecei a gostar muito e, hoje, eu sou fascinado.”

Treino com o treinador Carlos Williams. Foto: Luisa Rebouças

O halterofilismo é um esporte além do levantamento de peso. Cada atleta precisa entender bem as regras para não queimar as únicas três chances que possui para atingir o melhor resultado. Como o treinador Carlos Williams explica, existem vários requisitos que anulam o movimento: “Não pode levantar a cabeça e criar uma vantagem mecânica. Se começar o movimento antes do árbitro comandar, queima o movimento. Se a barra raspar no suporte, o movimento é invalidado. Se afastar as pernas, levantar o quadril, o movimento é inválido.“

Júnior diz que a diferença dele para os outros atletas consiste na sua técnica e facilidade de aprendizado, por estar sempre atento às regras e atualizações que o treinador repassa. A expectativa para o campeonato mundial nos EUA é grande. O atleta e seu treinador esperam um resultado suficiente para garantir a vaga nos jogos Parapan-americanos no Chile, em 2023, e Jogos Paralímpicos de Paris, em 2024.