Sustentabilidade e Veganismo: Benefícios para o meio ambiente

por , publicado em 24.ago.22

Atualmente, a causa vegana é uma das principais aliadas à preservação ambiental

A cada ano que passa o veganismo está em crescente adesão no Brasil. A causa que, além de ter como base o amor e respeito aos animais, também tem caráter sociopolítico no que abrange a luta pela preservação do meio ambiente.

Em pesquisa realizada em 2018 pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE Inteligência), em parceria com a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), revelou que 7 milhões de brasileiros se declaram veganos.

Pode-se considerar o veganismo uma forma mais intensiva do vegetarianismo. Porém, enquanto os vegetarianos só se restringem na alimentação, os adeptos deste estilo de vida levam em consideração a exclusão da alimentação de quaisquer produtos de origem animal, além do não consumo de vestuário e cosméticos de produtos que contenham em suas etapas de produção ou ingredientes que utilizam desse meio.

Segundo levantamento recente da Universidade de Oxford, o argumento de que produtos animais são necessários para alimentar a população é inverídico. Carnes e laticínios geram apenas 18% de todas as calorias ingeridas no planeta por seres humanos e dão apenas 37% de toda a proteína que precisamos. Ainda assim, esses produtos usam 83% de toda a área cultivável e produz 60% dos gases do efeito estufa produzidos no agronegócio.

Para o coordenador da pesquisa, Joseph Poore, uma dieta vegana é provavelmente a melhor maneira de reduzir impactos negativos no planeta Terra, não apenas gases do efeito estufa, mas acidificação global, eutrofização, uso da terra e uso da água. “É muito mais efetivo do que cortar vôos ou comprar um carro elétrico. Converter pasto em carne é como usar carvão para gerar energia. Sempre vem com um imenso custo em emissões”, declarou o pesquisador ao jornal The Guardian.

Esses dados são apoiados pela Organização das Nações Unidas (ONU), na afirmação de que o setor de produção animal é um dos maiores responsáveis pelos mais sérios problemas ambientais, em todas as escalas – da local à global. Além disso, o órgão também emitiu um alerta sobre a pecuária ser o setor que mais polui as águas do mundo de maneira irreversível.

Isso se dá pelo fato de que cada um destes animais necessita de uma grande quantidade de alimento, água, energia e espaço até estarem prontos para o abate, gerando ainda, resíduos e poluentes no solo, água e ar durante anos.

No Brasil, por exemplo, para um quilo de carne bovina são emitidos cerca de 80 quilos de CO2, enquanto um quilo de vegetais corresponde de 1 a 2 quilos do mesmo. A produção de carne de porco ou de galinha corresponde a um número de emissão de gases até 25 vezes maior que a de soja.

O óxido nitroso e o gás metano decorrentes dos processos da pecuária e da exploração animal também são altamente agressivos ambientalmente – ainda mais que o CO2.

Em paralelo a isso, um levantamento do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) em conjunto com a Agência Alemã para a Cooperação Internacional (GIZ) mostrou que, para cada R$1 milhão faturado pela pecuária, são gerados R$22 milhões em impactos ambientais.

É inegável, portanto, que o Brasil, mesmo sendo um dos países mais ricos no que tange a biodiversidade, sofre com o constante desmatamento que é, principalmente, decorrente da atividade agropecuária.

Por que engajar a causa vegana?

Ao falar de meio ambiente, poucos realmente têm consciência do processo que os alimentos sofrem até chegar à nossa mesa, ou o destino do lixo gerado pelas milhares de embalagens provenientes dos alimentos industrializados que consumimos.

O nutricionista Luis Felipe Albuquerque, de 38 anos, é vegano há 12 anos e sempre gostou de pesquisar informações sobre estilo de alimentação mais saudável e, inicialmente, se deparou com uma gama de possibilidades, passando a seguir perfis de pessoas crudívoras nas redes sociais, que são as pessoas que consomem alimentos a base de vegetais crus. “Ao seguir esses perfis, eu me deparei com muitas postagens que explicitava toda a violência envolvida na indústria do leite, ovos, carnes, a agressão cometida em zoológicos, laboratórios, circos e todos os meios tidos como entretenimentos ou que de alguma maneira exploram animais não-humanos”. declarou o pesquisador.

A partir dessa busca, Luís pontua que começou a ler e refletir sobre como era possível viver reduzindo ao máximo a dor e morte dos animais não-humanos e o quanto a história sempre foi escrita com a opressão de corpos tidos como menos importantes, existências tidas como secundárias e que sempre foram violentadas e interrompidas.

A causa vegana também é associada ao incentivo à mão de obra tradicional e local, além de buscar entender as variações da natureza, reduzir o descarte e, consequentemente, a diminuição da poluição através do lixo.

Para Luís, a sustentabilidade está intimamente ligada ao veganismo, pois além de abordar a temática da libertação animal, existe o estímulo ao consumo da diversidade vegetal dentro da alimentação, sendo possível trabalhar de forma acentuada a questão dos plantios que não sejam apenas no sistema de monocultura e, além disso, a possibilidade de mudar um pouco a mentalidade das pessoas e empresas para questões com impacto ambiental e agroflorestal.

“O veganismo pode ser um importante aliado do meio ambiente por reduzir o desmatamento provocado pela disfuncional ação da agropecuária. A indústria do leite, carne e produtos derivados de animais precisam desmatar para criar os animais e plantar os alimentos que serão ofertados a esses animais, além do elevado uso de água”, afirma.

Atualmente, no Brasil, milhares de pessoas são adeptas da “Segunda Sem Carne”, campanha mundialmente difundida pelo seu embaixador Paul McCartney. A proposta do movimento é convidar as pessoas a trocar, pelo menos uma vez por semana, a proteína animal pela proteína vegetal.

Pesquisadores da Universidade de Oxford descobriram que o corte de carne e produtos lácteos da dieta pode reduzir a pegada de carbono (em alimentação) de um indivíduo em até 73%.

Geralmente, são gastos 15.400 quilos de água para produzir 1 kg de carne, o que equivale a 10 mil metros de floresta desmatada e aproximadamente 335 kg de CO2 são emitidos para atmosfera. Hoje, o Brasil está entre os países com uma das maiores pegadas de carbono por habitante do mundo.

Um estudo feito pela Universidade Johns Hopkins e divulgado pela publicação científica Global Environmental Change revelou que esse impacto já seria significativo se o consumo de produtos de origem animal como carne, frango e ovos, fosse reduzido, fazendo com que as emissões de gases de efeito estufa também fossem diminuídas.

Além disso, a escassez hídrica também deve ser observada. Segundo a Sociedade Vegetariana Brasileira, apenas um dia sem consumir produtos de origem animal pode economizar 3,4 mil litros de água usados no cultivo de grãos e nos abatedouros, sete quilos de soja para ração, 24 metros quadrados de área plantada a evita que 14 quilos de gases tóxicos sejam lançados na atmosfera.

A perda da biodiversidade e os danos ambientais causados pelos seres humanos, podem ser combatidos e prevenidos se a conscientização chegar às pessoas como forma de possibilidades efetivas e que unem um estilo de vida ao seu lugar no mundo.

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