O impacto da pandemia no mercado de livros independentes

por , publicado em 02.out.22

Profissionais da área contam como se reinventaram nos tempos do COVID-19

Por: Bruna Torres e Yuri Gomes

Foto: Freepik/ Drobotdean

Em 20 de março de 2020, o Brasil decretou o estado de calamidade pública devido à pandemia do COVID-19, que à época já vitimava milhares de pessoas na China, Estados Unidos e Europa. Do dia para a noite, universidades, escolas, igrejas, lojas, bares, restaurantes fecharam, empresas mandaram seus funcionários para casa; a economia parou e seus setores tinham como incerta a sua própria existência no futuro.

Foi o caso do mercado editorial de livros e publicações independentes, que já vinha enfrentando dificuldades de financiamento e relacionadas à sustentabilidade financeira do negócio há bastante tempo. Diante das dificuldades, diversos profissionais tiveram que se reinventar e se adaptar ao novo cenário.

Após intensas reivindicações da classe artística junto ao Congresso Nacional, distribuiu a estados e municípios mais de 3 bilhões de reais em ações emergenciais de apoio à cultura, por meio de editais e chamadas públicas para seleção de projetos de livros, peças teatrais, musicais, filmes, entre outros.

O Jormais duas jovens profissionais do mercado editorial independente para saber quais foram os seus desafios, as surpresas e as perspectivas para o período pós pandêmico.

Comecei um mês antes da pandemia”

A designer Kaylane Guedes, proprietária do Lane Design, começou a estudar e trabalhar por conta própria ainda no final do Ensino Médio, junto com um grupo de amigas: “Vamos ver onde vai dar”. Ela começou a dedicar mais tempo para se desenvolver na nova profissão. Pouco mais de um mês depois do seu pontapé inicial, a pandemia começou. As dificuldades se apresentaram e, aquilo que era uma tentativa incerta, se tornou um dever. “Minha mãe não conseguiu voltar a trabalhar e então comecei a investir mais tempo pra tentar conseguir mais dinheiro”, afirma.

Kaylane conta que no início cobrava preços abaixo da média do mercado e gastava muito mais tempo para desenvolver seus trabalhos. Os dois primeiros anos da pandemia foram definidores para a carreira da designer: “em 2020 e 2021, eu fiz o design ser oficialmente minha profissão, evoluí e aprendi bastante. Se tornou a principal fonte de renda junto à pensão do meu pai”.

Foto: Lane Design

Lane relata que deu início ao design quando necessitou complementar a renda em casa, embarcando numa sugestão de uma amiga. O trabalho que começou com uma brincadeira, hoje já alcançou diversos autores independentes pelo país.

“A ideia de “ser sua própria chefe” é boa, mas tem o lado negativo de estar com a sensação de trabalhar 24h por dia, 7 dias por semana; atendendo clientes, respondendo orçamentos, trabalhando durante o dia todo, estudando técnicas, etc. Tem que saber conversar e tratar bem os clientes, estar disposto a ouvir e entender o outro lado. E nesse meio que todo dia há um estilo novo, técnicas novas, profissionais novos, precisamos reconhecer que evoluir e melhorar no que fazemos para entregar um serviço de qualidade é essencial”, finaliza a designer de 18 anos, esperançosa quanto à expansão desse mercado que ganha forma e se inova a cada dia.

Um cenário imprevisível, especialmente para os artistas”

https://www.youtube.com/watch?v=xX2qdNwI8dM
Fonte: Sesc Piracicaba

Quando falamos em mercado editorial, os livros não podem ser deixados de lado. A pandemia e suas incertezas trouxeram a alguns autores a falta de criatividade e bloqueios criativos. Para outros, o isolamento abriu novos horizontes, apesar das diversas dificuldades, e puderam se reinventar e aproveitar o período de isolamento para tirar algumas ideias do papel.

É o caso da poeta potiguar Regina Azevedo, que lançou seu primeiro livro aos 13 anos – “Das vezes que morri em você” (Jovens Escribas, 2013) – e que, durante a pandemia, publicou um novo livro (Lança Chamas), re-publicou outras duas obras (Pirueta e Carcaça), promoveu várias oficinas de poesia e participou de diversos eventos das cenas literárias local e nacional – todos remotamente, claro.

Porém, a escritora relata que o período foi muito desafiador, sendo um motivo de grandes inseguranças para toda a classe artística. “Não sabia como fazer, não sabia quanto tempo a pandemia duraria e não tinha perspectiva, planejamento”, conta. Além disso, Regina relata que foi um desafio se reinventar como artista e trabalhadora. “É um cenário imprevisível para todos, mas especialmente para os artistas. Gerou muita vulnerabilidade e ainda gera”.

Regina Azevedo conta que não é possível falar do setor da cultura na pandemia sem citar a Lei Aldir Blanc: ela própria aprovou 5 projetos em editais do governo do Estado e da prefeitura municipal. Em outras instituições, como o SESC, ela também conseguiu aprovar uma ação cultural. “Também fiz oficinas online, abertas para todo o Brasil, que foram tocadas de forma independente e deram bastante certo”.

Atualmente, Regina divide-se entre a graduação em Letras, a pesquisa acadêmica, o trabalho como revisora, sua produção cultural e a paixão pelos gatos. Recentemente, ela escreveu o ensaio “Ana C., Não Te Decifro, Só Te Devoro”, sobre Ana Cristina César para edição de junho do jornal literário Suplemento Pernambuco.

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