Além da sala de aula: Combate ao assédio vem à tona na UFRN

por , publicado em 28.out.22

Evento reúne comunidade acadêmica para discutir enfrentamentos aos diversos assédios presentes na universidade

Por Leilany Oliveira e Duda Félix

Auditório Otto de Brito Guerra recebe comunidade acadêmica para amplo debate sobre assédio na UFRN – Foto: Leilany Oliveira

Nos últimos anos, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) vem adotando uma série de medidas em combate ao assédio moral e sexual sofrido, principalmente, pelas estudantes da Instituição, que denunciaram 187 casos de assédio à Ouvidoria entre 2011 e 2021. Para ampliar as percepções da comunidade sobre o tema, na tarde desta terça-feira (25), o corpo acadêmico se reuniu no Auditório Otto de Brito Guerra para o evento “Diálogos: prevenindo e enfrentando o assédio moral e sexual no âmbito universitário”. Na ocasião, os professores da universidade, Zéu Palmeira, Juiz do Trabalho e Erica Canuto, Promotora de Justiça, palestraram sobre o tema.


O evento foi uma iniciativa da Fundação Norte-Riograndense de Pesquisa e Cultura (Funpec), em parceria com a Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas da UFRN (Progesp) e teve como objetivo, educar e conscientizar a comunidade a respeito dos tipos de assédios que acontecem na Universidade, de acordo com o oneroso número de casos que são registrados na Ouvidoria durante todos os anos.

Para Rebeca Oliveira, estudante da graduação em jornalismo, o assédio moral e sexual é recorrente na universidade e a realização de eventos como esse é uma excelente forma de orientação para as vítimas. “Trazer essa discussão para os alunos e servidores, também é uma forma de combater essa violência. Muitas vezes a pessoa não sabe que está sofrendo assédio ou desconhece sobre as atitudes que pode tomar diante dessa situação”, relata a aluna.

Combater é preciso

Para Zéu Palmeira, o assédio é um produto histórico da sociedade, que entende a existência de pessoas superiores e inferiores.  “Nessa dinâmica de superioridade e inferioridade, desconsideramos a humanidade do outro e com isso, o assédio acontece. É preciso ressignificar o Ethos da nossa sociedade”, defendeu o Juiz do Trabalho.

Essa configuração social se apresenta nos números oficiais registrados pelo Tribunal Superior do Trabalho (TRT) em 2021. No ano em questão, foram ajuizados, na Justiça do Trabalho, mais de 52 mil casos relacionados a assédio moral e mais de três mil relativos a assédio sexual, o que demonstra que ainda há um longo caminho a se trilhar quando o assunto é prevenção ao assédio no Brasil.

Durante a sua palestra, Zéu elencou as diversas maneiras em que o assédio se apresenta no ambiente de trabalho e acadêmico, oportunizando aos ouvintes o melhor entendimento acerca da temática. “Existem diversas faces para o assédio no ambiente corporativo, ele pode acontecer entre colaboradores do mesmo nível hierárquico ou em níveis diferentes, e também pode se encontrar dentro das normas da empresa, o chamado “Assédio Organizacional”, constatou o professor.

Questão de Gênero

Para além do poder hierárquico, o assédio e a importunação sexual estão atrelados a desigualdade de gênero, essencialmente, no mercado de trabalho. Quando, de acordo com levantamento da consultoria IDados, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio do IBGE, em 2021, a desconformidade aparece nas remunerações, com mulheres recebendo em média 20% a menos que os homens, no exercício da mesma função.

Professora Dr. Erica Canuto expõe assédio sexual no ambiente acadêmico – Foto: Leilany Oliveira

Erica Canuto explicou, durante a sua palestra, o porquê essa situação acontece, já que a misoginia vem acompanhada por diversas violências, incluindo os assédios e importunações. “Um fator determinante para o silenciamento da vítima, é a instauração da cultura do estupro na sociedade, que cumpre o papel de culpabilizar a mulher pelas violências sofridas por ela, em qualquer ambiente”, finalizou a Promotora de Justiça.

Serviço: Para registrar uma denúncia de assédio moral ou sexual ocorrida na UFRN, procure o site da Ouvidoria da UFRN.