Em Natal, grupo de mulheres se reúne para auxiliar pacientes em tratamento de câncer de mama
Ações de solidariedade e atividades terapêuticas são desenvolvidas em hospitais e reuniões online para ajudar mulheres no enfrentamento da doença
por Thiago Andrade e Carlos Henrique Saturnino
Em 2015, enquanto acompanhava a cunhada, na época acometida com um câncer de mama, em uma sala de recuperação de quimioterapia, Adilza Holanda, fundadora do projeto e atual presidente do grupo, percebeu quão benéfica seria a troca de experiências e de relatos entre mulheres em tratamento da doença. Segundo Adilza, as pacientes ali presentes no hospital costumavam ter muitas dúvidas e curiosidades a respeito dos sintomas, dos limites que podiam ou não ultrapassar por estarem em tratamento, e a veracidade ou não de informações e estigmas reproduzidos pela sociedade em relação a mulheres em tratamento oncológico.
Sete anos depois, o grupo “Bonitas” é hoje uma associação sem fins lucrativos que promove uma rede de apoio às mulheres em tratamento do câncer de mama, por meio de uma série de atividades, entre elas, encontros no Hospital da Liga Contra o Câncer, em Natal, para proporcionar o diálogo e a troca de experiência, distribuição de lenços e turbantes e atividades terapêuticas como a musicoterapia
O apoio psicológico na vida da paciente e da família
A psicóloga Ingrid Lavor explica que o bem-estar mental é um dos grandes pilares de sustentação para enfrentar o tratamento oncológico, sendo fundamental a rede de apoio de amigos e familiares, mas também a troca de experiências a partir de atitudes como a do grupo Bonitas, por proporcionar representatividade e identificação.
“É muito importante. Há um reconhecimento no outro, há um olhar para o outro, ao entender que cada um vive sua dor à sua forma, mas ao mesmo tempo há um autoconhecimento, uma representatividade ao compartilhar muitas vezes de algo que só está sendo vivido por uma outra pessoa naquela intensidade ou em uma intensidade parecida. É diferente de falar com um familiar, com um amigo, ou até com um profissional, falar com alguém que também vive aquilo é compartilhar grandes momentos nesse processo de reconhecimento e identificação, transformando o processo em uma luta coletiva. Ajuda sim bastante” Explica Ingrid.
Uma experiência que muda a forma de enfrentar os processos do câncer de mama
Gorette Gabriel, paciente oncológica, hoje fazendo apenas terapia de reposição hormonal, é membro do Projeto Bonitas desde 2018, quando foi diagnosticada com câncer de mama. Para ela, a experiência de ter recebido apoio de uma iniciativa como essa foi de fundamental importância, não só no enfrentamento da doença, mas também para facilitar o diálogo e ação com os familiares e pessoas ao seu redor, que ao receberem notícia do diagnóstico de um ente querido também podem ficar desestabilizados.
“Entrar no grupo naquele momento para mim foi muito importante. O grupo me ajudou em questões relacionada a dividir angústias, buscar informações, acolhimento, acompanhamento profissional, porque muitas vezes a nossa família fica tão desestabilizada e angustiada que não consegue nos ajudar”
A rede de apoio familiar, junto ao acompanhamento médico e psicoterapêutico, são duas importantes forças motrizes na trajetória de alguém que busca superar o tratamento oncológico. Por isso, pensando no bem estar mental das pacientes e dos seus familiares, o “Bonitas”, promove em suas reuniões e no grupo de whatsapp, diálogos e rodas de conversa com profissionais de psicologia, a fim de amenizar o processo de enfrentamento da doença, aprendendo a lidar com as mudanças físicas, de rotina, e até mesmo com o luto.
O Grupo Bonitas, hoje possui reconhecimento municipal e estadual enquanto Organização Sem Fins Lucrativos, porém não recebe recursos públicos, arrecadando orçamento para financiar seus projetos a partir da produção de bazares, vendas de itens da iniciativa – como bonés e camisetas, e doações. Neste mês de outubro, a organização levou a um dos maiores shoppings da capital uma exposição fotográfica com mulheres de 28 à 70 anos que venceram o câncer de mama.