Brazil Core: por que a estética virou tendência só agora?

por , publicado em 21.nov.22

A tendência de se vestir com as cores da bandeira viralizou na gringa com a classe média alta, mas sempre foi símbolo de cultura na periferia.

Muito provavelmente você já se deparou com algum perfil na internet, seja no Instagram ou no Tiktok, falando sobre a nova estética do momento, o famoso Brazil Core. O visual dessa nova estética consiste basicamente em usar camisas da seleção brasileira de futebol, usar as cores da bandeira do Brasil e misturar isso num look anos 2000 com uma pegada mais esportiva.

O grande questionamento é o que fez algo tão comum para o nosso país, especialmente na periferia e nas favelas, isso bem antes de virar símbolo de posicionamento político, se tornar “tendência” fora do Brasil. Nós poderíamos atribuir as cores fortes que já estavam em alta? a proximidade da copa? ou até mesmo a Anitta se tornando um ícone internacional? O ponto chave é que não é possível atribuir a apenas um fator.

Anitta usou as cores no Coachella desse ano. Reprodução: Instagram @anitta

Além disso, o que realmente chama atenção é o fato de: só por estar popular com as gringas, automaticamente já se torna uma tendência? A verdade é que essa é mais uma pauta, como várias outras, que escancara o racismo e mostra como basta algo ser apresentado em que seja branco e rico o suficiente para que receba nossa validação e nós chamemos de tendência.

Claro que não é possível generalizar e esse “movimento” ser apenas uma retomada da camisa brasileira. Mas fazer o questionamento e refletir sobre os nossos preconceitos se faz necessário para entendermos que tipo de “tendências” nós consumimos e qual a razão para isso. Então, vale perguntar “será que se fossem mulheres da periferia brasileira usando esses looks, seria considerado tão estiloso assim?”

Malu Borges já é conhecida por ousar nos looks. Reprodução: Instagram @maluborgesm

A realidade é justamente essa. Usar camisas da seleção brasileira e looks mais esportivos, sempre fez parte da periferia, para eles isso não é nenhuma grande novidade. O que para um jovem do Tiktok é uma estética, nas comunidades é uma mobilização social que busca exaltar a cultura local e trazer beleza e importância para os moradores.

A informação só ganha destaque quando vem de cima para baixo, por isso o Brasil Core chega nas redes sem dar o devido valor as periferias. Lúcia Alves, mestranda em branding, pesquisadora de tendências em comportamento e consumo, em entrevista ao portal Alma Preta, falou sobre o assunto e ressaltou que no panorama atual é quase impossível evitar que a apropriação ocorra, pois a estética Brasil Core já virou tendência. Porém, para ela, o que é possível ser feito é trazer a informação de sua origem e o peso de como essa estética é importante para o subúrbio.

Principalmente, pois as tendências passam, mas o que é estilo de vida e cultura irá permanecer, daí a importância de apresentar e reafirmar o real significado por trás dessa estética. Claro que quando olhamos por outro lado conseguimos enxergar o lado positivo, é a cultura das periferias sendo mostrada ao mundo. Mas será que se soubessem disso, seria tão popular assim?

Hailey Bieber usou a tendência na sua vinda ao Brasil. Reprodução: @haileybieber

O objetivo por aqui não é criticar, é apenas gerar os questionamentos e a reflexão. Inclusive porque nosso papel enquanto consumidores e brasileiros é observar o tipo de mercado que apoiamos e consumimos e de que forma isso reflete no nosso posicionamento. Afinal, a moda é política, não há como ignorar isso.