Pantanal: uma superprodução da rede Globo que conquistou o coração do Brasil 

por , publicado em 21.nov.22

Por Leandro Juvino, Luan Conceição e Ramon Soares

O remake de Pantanal conquistou o público jovem e virou um sucesso da Rede Globo.

   

 O remake de Pantanal (1990) da extinta TV Manchete, ganhou o coração do público e reconquistou a audiência das novelas da 21h da Globo. A trama pantaneira estreou em 2022, adaptada por Bruno Luperi, neto de Benedito Ruy Barbosa, autor original do folhetim e contou com a direção de Rogério Gomes . A obra foi um investimento certeiro da rede Globo, que gerou grande simpatia e várias campanhas publicitárias.

   A antecessora da trama de Bruno, “Um Lugar ao Sol” (2021), de Lícia Manzo, não cativou o público e teve os piores índices de audiências de uma novela das 21h, horário nobre da Globo. Fazendo de Pantanal uma grande promessa para 2022.

   Pantanal mistura personagens folclóricos, como mulheres que viram onças-pintadas, com assuntos reais como pecuária, preservação do meio ambiente e o bioma pantanal. A Globo investiu pesado na trama. As gravações ocorreram no cenário original da primeira versão, a fazenda do ator e cantor Almir Sater que participou das duas versões da novela.

   A novela acompanha a família do protagonista Zé Leôncio, filho do produtor rural Joventino. Os dois vivem especialmente da criação de gado pantaneiro, o “marruá”, viajando e trabalhando juntos. A história tem diversas reviravoltas, que atraem novos personagens, incluindo o núcleo do filho de Zé Leôncio, que recebe o nome do avô, Joventino, com Juma Marruá, a mulher que vira onça quando está com “reiva”. A trama também gira em torno do Velho do Rio, protetor da região e que tem a capacidade de virar uma sucuri.

   O elenco da obra também é de peso. A emissora escalou grandes nomes da teledramaturgia brasileira como Osmar Prado, Juliana Paes, Dira Paes, Marcos Palmeira, Irandhir Santos, Camila Morgado e Murilo Benício. Assim como grandes promessas da atuação como, Jesuíta Barbosa, Allanis Guillen, Bela Campos, Julia Dalavia, Renato Góes e Bruna Linzmeyer.

Zé Leoncio que começou a novela com um filho, encerrou a trama com três. (Reprodução/ Globo)

   A Rede Globo é notavelmente a maior rede de televisão nacional, tendo este título há décadas. Nos últimos anos, a emissora aumentou ainda mais a sua capacidade de produção. Em 2019, a emissora inaugurou o  MG4, ampliando o Estúdio Globo no Rio de Janeiro, que já detém o título de maior estúdio da América Latina. 

   O MG4 teve um investimento de 207 milhões de reais. É um estúdio voltado para a teledramaturgia, ou seja, produção de novelas, com estrutura e tecnologias avançadas. Para a novela Amor de Mãe, por exemplo, foi construída uma cidade cinematográfica com direito a viaduto cinematográfico para compor cenas. 

   Isso demonstra o avanço da produtora com as suas novelas. Com Pantanal, não foi diferente. Uma gama de equipamentos tecnológicos modernos e atualizados foram utilizados para filmar Pantanal no próprio bioma, com a presença de centenas de trabalhadores. O resultado, foram imagens estonteantes, que surpreenderam o público brasileiro pela beleza e precisão.

A recepção do público

 Para Ivania de Oliveira Costa Camêlo, 42, coordenadora de TI, a novela Pantanal resgatou seu hábito de assistir novelas. “Há muito tempo eu não parava para assistir uma novela, mas Pantanal conseguiu me prender e tornar o horário sagrado.” comentou Ivania.  A coordenadora conta que a novela das 21 horas fez seu marido, que nunca foi de assistir novelas, se render à trama. “Assistimos juntos a trama inteira e ainda comentávamos no dia a dia” conta.

   Por se tratar de um remake, Ivania acredita que a novela gerou curiosidade nos telespectadores. Para ela, o roteiro repleto de surpresas e temas incomuns, são os responsáveis pelo sucesso da trama pantaneira. O gostinho de “quero mais” que o folhetim deixou na coordenadora foi o mesmo em vários brasileiros e talvez esse seja o motivo do sucesso da história da Juma Marruá.

    Para a analista de sistemas, a identificação com os personagens é de extrema importância para o sucesso de uma novela. Ivania conta que essa fórmula aproxima obra e telespectador, criando uma sensação de pertencer aquele cenário irreal. “Além de render bons memes, a novela pode trazer momentos de reflexão que você acaba aplicando na própria vida” complementa a coordenadora. 

A conquista do público jovem e um fenômeno nas redes sociais

  Conforme divulgado pela coluna de Patrícia Kogut no O Globo, Pantanal é a responsável direta por fazer o público jovem assistir novelas na televisão aberta. A coluna destaca que, no público na faixa etária de 15 a 29 anos, a audiência é 25% maior do que a de “Um Lugar ao Sol”. Segundo a Tv Globo 40% dos jovens ligados no horário da novela, estão na Rede Globo.

Pantanal também marcou presença nas redes sociais. A rede social Twitter registrou 3 milhões de menções sobre a novela durante os 7 meses de exibição. Diversos memes surgiram e se popularizaram graças aos personagens da trama como Jove, Juma, Muda e Maria Bruaca, papel de Isabel Teixeira, que ganhou o apelido de “Mary Bru” no Twitter

Clarice Greco, professora do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Paulista (Unip) e autora do livro Virou Cult: Telenovela, Nostalgia e Fãs (Jogo de Palavras), destacou no portal GZH TV, que a presença da novela nas redes sociais é um dos principais responsáveis pela conquista do público jovem. Para ela, é como um sistema que se retroalimenta: os jovens levam Pantanal para web e pelo fato de estar na web leva mais jovens a assistir pantanal.

A pesquisadora explica que isso ocorre pelo desejo humano de pertencer. Ninguém gosta de ficar fora dos assuntos e, se no momento o assunto comentado é Pantanal, é esperado que as pessoas procurem se conhecer o tema para, assim, também estar aptas a participar do grupo. 

Jesuíta Barbosa é Joventino e Alanis Guillen vive Juma. Os dois formam o casal protagonista da trama (Reprodução/TV Globo)

Novelas na cultura brasileira

   Culturalmente o brasileiro possui o hábito de assistir telenovelas. Isso ocorre desde dos tempos das novelas de rádio. Com a migração para a televisão aberta assistir novelas virou um fenômeno, que cresceu geração após geração.

  O impacto de algumas novelas foram marcantes. Como aconteceu em “Salve Jorge” de Glória Perez. A trama era baseada no tráfico internacional de mulheres. A repercussão que o folhetim obteve na mídia foi responsável pelo aumento do número de ligações para o “Ligue 180” da Secretaria Especial de Políticas Para as Mulheres, como publicou o colunista Ancelmo Góes, do jornal O Globo. O assunto também rendeu matérias para o Fantástico, da Rede Globo.

 Além disso, alguns folhetins lançaram tendências na moda brasileira. Como ocorreu na novela “O Clone” (2001), também da Glória Perez. A obra, que aborda temas como clonagem de pessoas e cultura árabe,  foi a responsável por popularizar acessórios arábicos usados pela protagonista Jade, papel de Giovanna Antonelli. Marcando a moda do país no início dos anos 2000. Unhas, pulseiras douradas, delineado marcado para os olhos e lenços étnicos de cabelo, foram alguns apetrechos popularizados no Brasil pela personagem. Confira algumas tendências aqui: https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2019/12/12/o-clone-5-tendencias-de-estilo-que-a-novela-fez-bombar-nos-anos-2000.htm

    Algumas telenovelas brasileiras são baseadas em clássicos da literatura mundial. “A megera Domada” de William Shakespeare, publicada em 1623, ganhou uma adaptação da Rede Globo, intitulada de “O Cravo e a Rosa” (2000) de Walcyr Carrasco. A adaptação conquistou o público e foi um sucesso de audiência nas 3 vezes que foi reprisada no quadro da Globo “Vale a Pena Ver de Novo”.

Catarina e Petruchio viviam em pé de guerra mas se amavam intensamente. (Reprodução Globo)

   Jorge Amado, um dos maiores e mais importantes escritores brasileiros, teve algumas de suas obras adaptadas para as telinhas. “Tieta” exibida em 1989 é a adaptação do livro de Jorge Amado, Tieta do Agreste (1977). Outra obra do escritor baiano, Gabriela, Cravo e Canela (1958) ganhou duas versões para a televisão aberta,  “Gabriela”, que estreou pela primeira vez em 1975 e ganhou um remake em 2012, protagonizado por Juliana Paes.

Juliana Paes interpretou a protagonista no remake de Gabriela, papel na primeira versão de Sônia Braga