Ensino superior brasileiro apresenta aumento de ingresso de estudantes autistas

por , publicado em 28.nov.22

Instituições de ensino precisam adotar práticas de inclusão e estratégias de acessibilidade para adaptar atividades aos discentes que estão inseridos no espectro autista

Segundo o Censo da Educação Superior realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), pessoas autistas estão cada vez mais ingressando no ensino superior. O estudo comprovou que, em 2019, foram realizadas 917 matrículas em instituições de ensino superior no Brasil, enquanto em 2020 o número subiu para 2.974.

A partir do aumento do ingresso de estudantes autistas, é essencial que docentes e instituições tenham a preparação adequada para receber esses alunos. Thuysa Andrielly, terapeuta ocupacional que atua com pacientes autistas, explica que muitos professores e gestores escolares resistem ao declarar o despreparo para conscientizar as instituições quando esse público é falado.

Foto: Green Chameleon/Unplash

O TEA: características e dificuldades

O transtorno do espectro autista (TEA) é um distúrbio do neurodesenvolvimento que tem como uma das características as manifestações comportamentais atípicas. Além disso, pessoas com TEA podem apresentar déficits na comunicação e na interação social, padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados, é o que relata Thuysa.

Para que o ensino superior não apresente dificuldades para pessoas autistas, é necessário que exista uma abertura para práticas mais acessíveis. A vivência da faculdade marca um maior desenvolvimento da autonomia, havendo modificações também no comportamento dos alunos e mudanças na sua interação social, pontos destacados pela terapeuta.

Thuysa atua como terapeuta ocupacional. Foto:Amanda Lira.

Iury Dantas, neurologista pelo Hospital Geral de Fortaleza (HGF) e professor na Escola Multicampi de Ciências Médicas do RN, relata a dificuldade de socialização de modo simultâneo, a dinâmica das atividades acadêmicas e a mudança de rotina como principais pontos observados em pessoas com TEA. “Alguns estudantes necessitam de mais tempo para ter confiança e promover mudanças graduais em sua rotina, nesse contexto, o apoio da família e da universidade é fundamental”, argumenta.

Ele conta, também, sobre a dificuldade na concentração, principalmente com assuntos que não despertam interesse nos estudantes num primeiro momento, sendo necessário até mesmo uma adaptação dos conteúdos programáticos. No entanto, pode acontecer de outros alunos conseguirem absorver os conteúdos de um modo mais fácil. Lidar com estímulos sensoriais, sobretudo, visuais e auditivos também pode ser uma barreira para pessoas autistas, algumas pessoas sentem-se desconfortáveis com esses estímulos, mas é importante não generalizar.

“Durante muito tempo, acreditava-se que era possível generalizar pessoas e, assim, padronizar estratégias terapêuticas e pedagógicas a partir de um mesmo quadro diagnóstico”, argumenta Thuysa Andrielly e adiciona que hoje pode ser relatado que duas pessoas reagem às intervenções de modo diferente, por exemplo.

Foto: Bruce Fernandes.

A ação do docente e do ambiente universitário

O indivíduo com autismo encontra uma série de dificuldades a partir do ingresso no ambiente escolar e universitário, essas adversidades passam a ser parte da rotina dos professores e da escola, mas há maneiras de diminuir os obstáculos enfrentados, como explica a terapeuta ocupacional. “Uma forma de melhorar a adaptação e, consequentemente, obter a diminuição dessa contingência é adaptar o currículo e estratégias sensoriais”, relata.

Contratempos apresentados no ensino superior por estudantes autistas existem, principalmente, pela desconsideração da condição e potencialidades desconhecidas, como conta Thuysa. “O importante é a dedicação e a abertura dos profissionais a aprenderem e modificarem os rumos de aprendizagem para potencializar da melhor maneira os ganhos desse público”, completa.

Iury Dantas enfatiza a importância das discussões sobre acessibilidade na comunidade acadêmica como uma porta de entrada para a inclusão de todos os alunos. “É importante discutir o ingresso dos estudantes com TEA no ensino superior, para que seja possível traçar estratégias de inclusão nos diferentes âmbitos da universidade, dando-lhes a oportunidade de seguir no curso superior e inserir-se futuramente no mercado de trabalho”, argumenta.