Jovens relatam que colecionar o álbum de figurinhas da Copa é um momento em família
Mesmo sendo tradição, aumento do preço dos pacotes fez muitos torcedores repensarem sobre a compra do álbum
Um mar de camisas da seleção, bandeiras, avenidas pintadas de verde e amarelo e a reunião de amigos e familiares com direito a churrasco e música alta retratam o cenário de todo o Brasil quando se trata de Copa do Mundo. De quatro em quatro anos, o país é tomado pelos sentimentos de paixão pelo futebol e um desespero de trazer o título do hexa para casa.
Como fiéis torcedores, o brasileiro segue a tradição. E, dentre todas existentes, sempre tem algo que predomina: colecionar o álbum de figurinhas. Como uma forma de “esquenta” para a Copa do Mundo, é possível encontrar pessoas trocando figurinhas em qualquer lugar da cidade. Seja criança ou idoso, mulher ou homem, basta passar em frente a uma banca de jornal e todos estarão lá.
No entanto, a dúvida de comprar o álbum em 2022 foi intensa. O alto preço do pacote de figurinhas, que dobrou em relação à Copa passada, fez com que os torcedores repensassem se deveriam ou não colecionar figurinhas. Em 2018, o pacote com cinco figurinhas era vendido ao preço de R$2,00. Hoje, o preço, ainda com a mesma quantidade de figurinhas, está R$4,00, o que significa um aumento de 100% no valor do pacote.
“Eu continuei comprando, mas ainda assim é muito caro! Você vai comprar apenas 10 pacotes e já gasta 40 reais”, diz Anna Beatriz Leal (18). “Fiquei chateado. Isso acaba afastando algumas pessoas que colecionariam o álbum. Por conta do aumento de preços. Estou demorando mais que o normal para completar o álbum, já que não consigo ficar comprando com muita frequência os pacotes, além de diminuir o número de pessoas com quem eu possa trocar as figurinhas”, relata Heitor Lopes (22), com tom de frustração.
Os dois, que têm o costume de colecionar álbuns há mais de 10 anos, não se conhecem, mas compartilham do mesmo sentimento de paixão pela Copa do Mundo. Assim como muitos outros torcedores, Beatriz e Heitor trocam as figurinhas repetidas com os amigos, familiares e com qualquer outra pessoa que pretenda completar o álbum.
Mas, além disso, desde o lançamento do novo álbum da copa até o dia do jogo final da competição, eles fazem dessa situação, um momento em família.
Tradição familiar
Heitor coleciona figurinhas de futebol desde a Copa do Mundo de 2010, que aconteceu na África do Sul, juntamente com o pai, mas lembra que – mesmo antes – colecionava álbuns de figurinhas de desenhos, jogos e outras coisas que gostava quando era criança. “Coleciono porque é divertido, é como se sempre fosse algo novo na minha vida, me fazendo da rotina”, afirma.
Heitor usa desse momento para ficar mais próximo dos pais. Para ele, por ser mais de uma pessoa ajudando, fica muito mais rápido de concluir o álbum. “É o nosso momento familiar semanal. Minha mãe não entende muito desse mundo, mas sempre acompanha quando a gente vai na banca comprar ou trocar figurinha, e sempre reclama quando a gente deixa um resto de pacote rasgado pelo chão da casa. É engraçado”, conta.
Já Beatriz, compartilha esse momento com sua mãe. Por influência de dona Ana Carla Leal (51), que sempre foi apaixonada por futebol, a filha começou a colecionar figurinhas e, em 2014, quando a Copa do Mundo tinha como país sede o Brasil, completou seu primeiro álbum.
“Muitas pessoas do local em que ela trabalhava começaram a comprar e dividir esse momento com os filhos. Acabei sendo influenciada por ela e dividimos esse momento até hoje”, relata Beatriz. Além disso, ela conta que boa parte da influência também foi de seus colegas de escola, já que todos estavam colecionando e trocando figurinhas durante a aula. A estudante afirma que “todos entraram no tema”.
Bancas de jornais lotadas
Um dos momentos mais esperados pelos colecionadores é a interação nas bancas de jornais. Nessa época do ano, as bancas, que antes pareciam até esquecidas devido ao mundo digital atual, viram palco de confraternização de famílias e amigos motivadas pelo mesmo motivo.
“Você passa pelas bancas em outras épocas e não tem quase ninguém, tem uma pessoa ou outra. Mas em época de Copa é tão lotado que às vezes não tem figurinha ou álbum. Tem bancas que começaram a vender e, no mesmo dia, já tinham esgotado tudo. É algo surreal”, afirma Beatriz, com muita animação.
Por outro lado, Heitor conta que apesar de estar sem tempo de ir trocar as figurinhas repetidas nas bancas, pretende seguir com o hobby até o final da Copa. “Sempre que passo em frente a algumas bancas, elas estão cheias. É muito legal e divertido ver várias pessoas de idades diferentes entrando na brincadeira, além de, claro, dar um respiro e uma vida nova a algumas bancas”, diz.