Jovens relatam que colecionar o álbum de figurinhas da Copa é um momento em família

por , publicado em 02.dez.22

Mesmo sendo tradição, aumento do preço dos pacotes fez muitos torcedores repensarem sobre a compra do álbum

Um mar de camisas da seleção, bandeiras, avenidas pintadas de verde e amarelo e a reunião de amigos e familiares com direito a churrasco e música alta retratam o cenário de todo o Brasil quando se trata de Copa do Mundo. De quatro em quatro anos, o país é tomado pelos sentimentos de paixão pelo futebol e um desespero de trazer o título do hexa para casa.

Como fiéis torcedores, o brasileiro segue a tradição. E, dentre todas existentes, sempre tem algo que predomina: colecionar o álbum de figurinhas. Como uma forma de “esquenta” para a Copa do Mundo, é possível encontrar pessoas trocando figurinhas em qualquer lugar da cidade. Seja criança ou idoso, mulher ou homem, basta passar em frente a uma banca de jornal e todos estarão lá. 

No entanto, a dúvida de comprar o álbum em 2022 foi intensa. O alto preço do pacote de figurinhas, que dobrou em relação à Copa passada, fez com que os torcedores repensassem se deveriam ou não colecionar figurinhas. Em 2018, o pacote com cinco figurinhas era vendido ao preço de R$2,00. Hoje, o preço, ainda com a mesma quantidade de figurinhas, está R$4,00, o que significa um aumento de 100% no valor do pacote.

O valor de um pacote com cinco figurinhas custa R$4,00 – Foto: Luana Costa

“Eu continuei comprando, mas ainda assim é muito caro! Você vai comprar apenas 10 pacotes e já gasta 40 reais”, diz Anna Beatriz Leal (18). “Fiquei chateado. Isso acaba afastando algumas pessoas que colecionariam o álbum. Por conta do aumento de preços. Estou demorando mais que o normal para completar o álbum, já que não consigo ficar comprando com muita frequência os pacotes, além de diminuir o número de pessoas com quem eu possa trocar as figurinhas”, relata Heitor Lopes (22), com tom de frustração.

Os dois, que têm o costume de colecionar álbuns há mais de 10 anos, não se conhecem, mas compartilham do mesmo sentimento de paixão pela Copa do Mundo. Assim como muitos outros torcedores, Beatriz e Heitor trocam as figurinhas repetidas com os amigos, familiares e com qualquer outra pessoa que pretenda completar o álbum.

Mas, além disso, desde o lançamento do novo álbum da copa até o dia do jogo final da competição, eles fazem dessa situação, um momento em família.

Tradição familiar

Heitor coleciona figurinhas de futebol desde a Copa do Mundo de 2010, que aconteceu na África do Sul, juntamente com o pai, mas lembra que – mesmo antes – colecionava álbuns de figurinhas de desenhos, jogos e outras coisas que gostava quando era criança. “Coleciono porque é divertido, é como se sempre fosse algo novo na minha vida, me fazendo da rotina”, afirma.

Heitor compartilha o momento de colar e trocar figurinhas com seus pais – Foto: Cedida

Heitor usa desse momento para ficar mais próximo dos pais. Para ele, por ser mais de uma pessoa ajudando, fica muito mais rápido de concluir o álbum. “É o nosso momento familiar semanal. Minha mãe não entende muito desse mundo, mas sempre acompanha quando a gente vai na banca comprar ou trocar figurinha, e sempre reclama quando a gente deixa um resto de pacote rasgado pelo chão da casa. É engraçado”, conta.

Já Beatriz, compartilha esse momento com sua mãe. Por influência de dona Ana Carla Leal (51), que sempre foi apaixonada por futebol, a filha começou a colecionar figurinhas e, em 2014, quando a Copa do Mundo tinha como país sede o Brasil, completou seu primeiro álbum. 

“Muitas pessoas do local em que ela trabalhava começaram a comprar e dividir esse momento com os filhos. Acabei sendo influenciada por ela e dividimos esse momento até hoje”, relata Beatriz. Além disso, ela conta que boa parte da influência também foi de seus colegas de escola, já que todos estavam colecionando e trocando figurinhas durante a aula. A estudante afirma que “todos entraram no tema”.

Bancas de jornais lotadas

Um dos momentos mais esperados pelos colecionadores é a interação nas bancas de jornais. Nessa época do ano, as bancas, que antes pareciam até esquecidas devido ao mundo digital atual, viram palco de confraternização de famílias e amigos motivadas pelo mesmo motivo. 

“Você passa pelas bancas em outras épocas e não tem quase ninguém, tem uma pessoa ou outra. Mas em época de Copa é tão lotado que às vezes não tem figurinha ou álbum. Tem bancas que começaram a vender e, no mesmo dia, já tinham esgotado tudo. É algo surreal”, afirma Beatriz, com muita animação.

Por outro lado, Heitor conta que apesar de estar sem tempo de ir trocar as figurinhas repetidas nas bancas, pretende seguir com o hobby até o final da Copa. “Sempre que passo em frente a algumas bancas, elas estão cheias. É muito legal e divertido ver várias pessoas de idades diferentes entrando na brincadeira, além de, claro, dar um respiro e uma vida nova a algumas bancas”, diz.