Messias Targino: A terra do crochê potiguar

por , publicado em 02.dez.22

O crochetear aprendido pelas meninas, quando elaboravam enxovais, hoje traz autonomia para mulheres e reconhecimento para a cidade

Por: Beatriz Rodrigues, Gilvanise Oliveira e Marília Gonçalves.

Crochê nas ruas de Messias Targino. Foto: Marília Gonçalves

A cena nostálgica das senhorinhas nas calçadas das casas, sentadas em suas cadeiras de balanço, conversando e ponteando habilidosamente agulha e linha, é o retrato do interior do país. Parece que quanto menor a cidade, mais enraizados nos hábitos de seu povo estarão os traços históricos e culturais. 

O município de Messias Targino poderia ser apenas mais um dentre tantos outros destinos no interior do estado do Rio Grande do Norte, não fosse a notoriedade que ganhou ao ter uma peça de crochê produzida por uma de suas artesãs estampando a capa da Vogue Brasil.

Distante mais de 300 km de Natal, capital do estado, a cidade situada no médio oeste potiguar viu a economia local ganhar novos ares a partir da venda das peças produzidas em crochê, arte milenar que tem ganhado cada vez mais espaço nos editoriais de moda mundo afora.

Em levantamento realizado pelo poder público municipal, visando identificar os artesãos da cidade, destacou-se um número significativo de crocheteiras e, percebendo o potencial de mercado das peças produzidas, surgiu a ideia de criar um projeto voltado ao desenvolvimento e qualificação das artesãs, com o objetivo de comercializar as peças e gerar renda para as profissionais locais. 

O projeto “Messias Targino: Terra do crochê”, vinculado à Secretaria de Cultura, possui trinta e uma crocheteiras que produzem para lojas e atendem também demandas de clientes particulares. O grupo nasceu há quase dois anos e já trouxe fama para a antiga Junco. As crocheteiras abandonaram os bicos de pano de prato e apostaram na moda, criando peças pilotos sob demanda dos estilistas. 

Produção de crochê. Foto: Marília Gonçalves
George, coordenador do projeto. Foto: Marília Gonçalves

George Almeida, coordenador do projeto, teve a iniciativa de buscar marcas para ofertar os serviços das artesãs.  Ele destaca que a Prefeitura do município dá todo o suporte necessário à condução das atividades do núcleo, desde a compra da matéria prima até a prospecção de marcas para novos contratos e o gerenciamento da produção e faturamento das crocheteiras, cuja negociação para precificação das peças a serem produzidas é feita previamente.A introdução das peças no mercado nacional se deu através da loja Moda Depedro, marca potiguar, que levou a arte das crocheteiras de Messias Targino para a passarela do São Paulo Fashion Week.

Mais alguns “pontos” e lá estava a camisa machão produzida por Dona Nenê Mascena, vestindo uma das modelos da capa da Vogue Brasil, maior revista de moda da América Latina.

Capa da Vogue Brasil. Foto: Reprodução

A partir da divulgação em nível internacional, George começou a ser procurado por várias marcas pelo direct do próprio Instagram, buscando fazer encomendas às crocheteiras, que já vestiram famosos como Juliana Paes, Ana Maria Braga, Léo Santana, Zé Felipe e Alok.

Diante de tamanho sucesso, em agosto de 2022 a cidade de Messias Targino foi reconhecida pela Governadora, professora Fátima Bezerra, como “Terra do Crochê”, a partir da Lei nº 11.224.

Para estimular ainda mais a venda dos produtos, a Prefeitura criou a Vila do Empreendedor, espaço de apoio e orientação aos empreendedores que vai contar com uma loja só com peças de crochê produzidas pelas crocheteiras de Messias Targino. Um incentivo à continuidade do trabalho desenvolvido e a certeza que a arte que atravessa gerações seguirá vestindo e encantando pessoas em todo o mundo.

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