Em meio às dificuldades, o cinema potiguar se desenvolve

por , publicado em 28.jun.23

Arte, cultura e entretenimento: elementos essenciais para uma sociedade e que podem ser facilmente acessados por meio do cinema. Mas e se o cinema for o elemento de difícil acesso? No cenário potiguar, enquanto a população precisa ir aos shoppings para conseguir ter acesso ao cinema, as produções e iniciativas do audiovisual do estado procuram incentivos e, em meio às dificuldades, crescem e se diversificam cada vez mais. É o que afirma Ruy Alkmim, docente do curso de Audiovisual do Departamento de Comunicação Social (Decom) e coordenador do curso de Especialização em Produção de Documentários da UFRN. 

As exibições populares são alternativas que vão além das salas de cinema – Foto: Rogério Vital

O professor categoriza os cinemas de shoppings como espaços elitizados e defende que para se desenvolver um ambiente em que toda a comunidade possa aproveitar o entretenimento com preços mais acessíveis e programação de fato diversificada, é necessário a criação de salas públicas de cinema. “Esse é um direito: as pessoas devem ter garantido o seu direito à educação, ao lazer e à cultura e salas de cinema realmente democráticas são essenciais para isso”, completa Ruy.

Por outro lado, o audiovisual potiguar cresce. “Atualmente, verificamos uma produção cada vez maior e mais diversificada que está alcançando destaque em mostras e festivais dos mais variados”, afirma o docente. São produções como Sideral, dirigida por Carlos Segundo, que leva o título de potiguar para o Festival de Cannes, na França, ou para a lista de pré-indicados ao Oscar, que mostram a capacidade de obras do RN alcançarem maiores destaques.

“O audiovisual no RN cresceu muito nos últimos 20 anos, ainda assim, as políticas públicas no estado e nos municípios têm muito o que melhorar. É preciso incentivar a produção, a distribuição, a divulgação, a formação de público, a formação de profissionais, a crítica, a pesquisa e a preservação. Às vezes, as políticas incentivam apenas a produção e sem considerar o ciclo completo não é possível constituir uma cadeia produtiva sustentável”, relata Ruy Alkmim.

As maiores dificuldades enfrentadas dentro do audiovisual no RN estão relacionadas à exibição, como explica o professor. A etapa de levar a obra para toda a cidade ou estado é fundamental para produtores e filmes porque, além da divulgação, as exibições levam motivação e um maior incentivo de produzir o audiovisual, formar profissionais, desenvolver pesquisas e realizar mostras e cineclubes, iniciativas que promovem o entretenimento mais acessível.

É exemplo de uma dessas iniciativas a Mostra de Cinema de São Miguel do Gostoso, festival anual de cinema realizado na cidade de São Miguel do Gostoso, Rio Grande do Norte. A Mostra foge do padrão das salas de cinema de shoppings e acontece ao ar livre, exibindo lançamentos da cinematografia brasileira e com uma programação gratuita. O evento é uma das ações que contam com apoio e patrocínio da Agência Nacional do Cinema e do Fundo Setorial do Audiovisual.

A Mostra costuma ser realizada ao ar livre, nas areais da praia. Foto: Rogério Vital.

São projetos como a Mostra de São Miguel do Gostoso que despertam a esperança de uma maior valorização das produções audiovisuais potiguares, mas ela é apenas uma ação atípica dentro do estado.

“Os filmes potiguares estão cada vez mais presentes em mostras e festivais de relevância nacional e internacional, no entanto, mal passam na TV potiguar, e nos cinemas, raramente”, diz Ruy e cita Big Bang, curta que estreou no Festival Internacional de Cinema de Locarno, na Suíça, um dos principais festivais do mundo, mas não foi exibido no cinema potiguar.

Ele menciona a relevância do programa da TV Universitária da UFRN que discute produções audiovisuais, Olhar Independente, na divulgação dessas obras e os projetos que são levados para locais fora da capital e do centro de Natal. “Observamos trabalhos notáveis de realizadores nas periferias de Natal, ou em Mossoró, Currais Novos, Santa Cruz, de Parnamirim, São Gonçalo, São Miguel, Assu… O filme é feito para ser visto, numa exibição de qualidade, com bom público e com remuneração justa, para que as pessoas que trabalham com audiovisual possam fazer novos filmes”, finaliza o docente.